Manuela Vaz, presidente da Accenture Portugal, considera
“A Accenture vai investir globalmente três mil milhões de dólares em ativos de IA, formação dos seus colaboradores e na criação de equipas, para conseguir levar a todos os clientes a transformação tecnológica que se espera para os próximos anos” – afirma Manuela Vaz. Em entrevista à “Vida Económica”, a presidente da Accenture Portugal destaca o papel das tecnologias emergentes como fator de competitividade para as empresas.
Os últimos anos têm sido os de maior crescimento para a subsidiária portuguesa da Accenture. A nível global, a Accenture emprega quase 750 mil pessoas, incluindo mais de 5300 pessoas em Portugal. O valor em bolsa da Accenture ultrapassa 250 mil milhões de dólares.

Vida Económica - Ao  ser a primeira presidente da Accenture em Portugal, tal como acontece em Espanha e Estados Unidos, admite que há fatores favoráveis à progressão de mulheres em áreas que tradicionalmente eram dirigidas por gestores masculinos?
Manuela Vaz - Há uma nova tendência das mulheres estarem cada vez mais em cargos de topo, porque se começou a perceber que a diversidade é boa para o negócio. A Harvard Business Review diz-nos que equipas diversas são mais propensas a inovar do que aquelas com homogeneidade cultural, naturalmente devido à variedade de perspetivas e experiências que trazem para a mesa. Aqui em Portugal, nenhuma mulher foi escolhida para uma posição de liderança pelo facto de ser mulher, mas sim pelas capacidades demonstradas e provas dadas. O que nós fizemos, e penso que a maior parte das organizações foram fazendo ao longo do tempo, foi criar condições para que as mulheres se pudessem desenvolver dentro das organizações, criando grupos de trabalho, apostando em alguns incentivos para a promoção da paridade. A Accenture está altamente comprometida em alcançar a paridade de género até 2025.
 
VE– O papel da Accenture é contribuir para que as organizações se tornem mais competitivas e inovadoras. Mas nós sabemos que Portugal tem um défice de produtividade de cerca de 40% face à média europeia. Quais são as causas deste défice e quais podem ser as soluções para reduzirmos esta diferença? 
MV– As causas dos défices de produtividade levava-nos a uma conversa longa…. Mas todos sabemos que tem que ver com a educação, questão ligada a um conjunto de causas estruturais que duram há décadas eque não se resolvem instantaneamente. Como sabemos, temos a geração mais talentosa de sempre, que nos tem vindo a fugir, é verdade, mas também porque o mercado é cada vez mais global. Aquilo que nos compete é reter esta geração. Temos que garantir que colocamos todo esse talento ao serviço das nossas empresas, uma vez que temos a geração mais bem preparada, tanto do ponto de vista tecnológico como do ponto de vista da gestão, para conseguirmos fazer com que as nossas organizações cresçam mais rapidamente e se antecipem aos seus pares. No final do dia, ganha Portugal.
 
VE - E de que forma a Accenture pode ajudar as organizações a enfrentar as ameaças atuais e aproveitar as oportunidades que existem? 
MV– Nós podemos ajudar de variadíssimas maneiras, dependendo do perfil da empresa que nos pede ajuda e do contexto do mercado em que ela opera.
Na Accenture, temos serviços de estratégia e consultoria que permitem naturalmente delinear uma estratégia conducente a criar um plano de crescimento, no mercado em que operam. Temos uma grande base tecnológica, que é o nosso DNA, em permanente atualização. Somos líderes nessa área. E, portanto, essa é uma arma que temos e que colocamos ao serviço de todos os nossos clientes. 
Temos a nossa área de Song, que é uma agência de criatividade que permite ajudar os clientes a vender mais e vender melhor através de experiências diferenciadoras. 
A Accenture vai investir este ano três mil milhões de dólares em ativos de IA, na formação de pessoas e criação de equipas, para levar a todos os clientes essa transformação tecnológica que será cada vez mais rápida e decisiva.
 
VE - pensando nas mudanças do mercado e dos clientes, a consequência é também a mudança da consultoria? 
MV– Sem dúvida. O desenvolvimento de software, por exemplo, tem um impacto enorme. Não só estamos a olhar para o impacto que tem nos nossos clientes, como com também no nosso próprio trabalho. 
Mas continuamos a precisar de pessoas que percebam do negócio e de tecnologia, que percebam de operações e de marketing. Continuamos, portanto, a transformar o nosso negócio para podermos ajudar os nossos clientes a reinventar-se. 
 
VE - Quais são os erros que as organizações cometem de uma maneira mais frequente e que penalizam o seu crescimento? 
MV– Depende dos países e das regiões. Pensando em Portugal, ainda temos muitos empresários que não perceberam que realmente a tecnologia é um driver do negócio. 
O mundo exige-nos uma flexibilidade muito maior e que estejamos muito mais preparados para mudar com agilidade. 
Quem não percebeu ainda o verdadeiro poder daquilo que a tecnologia pode fazer pela reinvenção do negócio, acaba por não tirar partido do que tem.
 
Empresas precisam de liderança
 
VE - Há quem defenda que não é necessário liderança, mas sim boa gestão. Onde é que as organizações têm mais caminho a percorrer? 
MV - As empresas precisam de boa gestão e de garantir que têm os processos certos, que têm a operação devidamente oleada para conseguir os resultados de negócio, caso contrário não há sucesso. Uma empresa que funciona bem e que cresce, tem que ter a estratégia bem definida, uma liderança inspiradora e uma visão clara, tem que ter os seus colaboradores motivados e perceber o seu propósito.
 
VE - Para a Accenture os clientes estrangeiros têm um peso cada vez maior e existem condições para Portugal ser cada vez mais competitivo em áreas especializadas?
MV– Em Portugal, os clientes estrangeiros são efetivamente cada vez mais importantes e áreas onde Portugal se especializa e se torna muito competitivo. O país é exportador de conhecimento e serviços altamente especializados. 
Em Portugal, já temos uma quota de mercado muito interessante. Temos uma equipa de profissionais altamente cobiçado. Somos um país exportador, contratamos cada vez mais talento jovem e tentamos retê-lo.
Nós contratamos licenciados essencialmente quando complementam a sua formação com o mestrado ou  doutoramento e, portanto, é talento altamente qualificado que pretendemos reter e que queremos colocar também ao serviço do mercado e dos nossos clientes internacionais. 
Estamos a construir equipas robustas, com lideranças experientes e com gente mais júnior. É este talento que nós queremos potenciar lá fora. Temos diferenciadores de qualidade a nível técnico e funcional. Não queremos ser a mão de obra barata da Europa. O nosso negócio não é isso, nem nunca foi. 
Em Portugal, fomos desenvolvendo centros de competência e neste momento trabalhamos com países como os Estados Unidos, e geografias como a Europeia e a América do Sul. Há um conjunto de outras áreas onde vamos crescer e ainda ser referência no futuro. 
Nós conseguimos contratar e desenvolver aqui em Portugal um talento que não é fácil de contratar na Europa. Na região do grande Porto, conseguimos contratar talento na área de security que não se consegue encontrar.
Há de facto aqui uma competência na área de Security e Cloud que é muitíssimo relevante e que é um motivo para termos cá este centro europeu e vamos fazê-lo crescer de uma forma mais abrangente, exportando serviços a nível global.